O Janeiro Branco é um movimento de conscientização sobre saúde mental, e uma das questões que tem ganhado atenção é o “brain rot”, ou atrofia mental. Em 2024, a expressão foi eleita a palavra do ano pela Universidade de Oxford, sendo um termo que descreve uma condição de exaustão cognitiva, que afeta diretamente a produtividade e o bem-estar dos trabalhadores. Com raízes históricas e impactos evidentes na sociedade contemporânea, entender o “brain rot” é fundamental para promover mudanças no mercado de trabalho.
A origem do termo “brain rot”
Embora popularizado nos últimos anos, o conceito do termo tem uma base histórica sólida. A psicóloga da BR MED Karla Pereira (CRP 05/61975) explica que a ideia foi introduzida pelo filósofo Henry David Thoreau em 1854, que já alertava sobre os efeitos de uma sociedade superficial na mente humana. Hoje, o termo se refere a sinais de deterioração mental, como cansaço extremo, falta de estímulo intelectual e privação do sono.
“A pessoa pode identificar embotamento mental, cansaço mesmo sem esforço físico, falta de estímulo intelectual/vontade de aprender, estresse, dificuldade para se concentrar e até a privação do sono que pode vir a se tornar uma insônia”, afirma Karla.
No ambiente do trabalho, esses sinais têm se tornado cada vez mais frequentes, especialmente em funções que exigem alta concentração e adaptação constante às mudanças digitais.
Consumo digital e suas consequências
Um dos principais fatores associados ao “brain rot” é o consumo excessivo de conteúdo digital. Para Karla, o excesso de estímulos tecnológicos tem impactos significativos na capacidade cognitiva. “Acontece que com o avanço tecnológico, a quantidade de estímulos aumentou muito, fazendo com que a gente se force a se concentrar em muitas coisas e ao mesmo tempo em nenhuma, porque dificulta a assimilação da informação, o que consequentemente influencia na formação de memórias, por exemplo e assim por diante”, destacou.
Além disso, a psicóloga alerta sobre a tendência ao auto diagnóstico psiquiátrico: “Será que você tem mesmo TDAH, por exemplo, ou só está cercado de muitos estímulos ao tempo e tentando dar conta de todos eles, se sobrecarregando?”.
Essas questões têm impactos diretos no desempenho dos profissionais, que frequentemente relatam cansaço mental, dificuldade de aprendizado e redução na produtividade.
Conexão com a NR-1
A atualização da Norma Regulamentadora Nº 1 (NR-1), que passou a incluir fatores psicossociais como parte da gestão de riscos ocupacionais, traz uma importante conexão com o conceito de “brain rot”. A exaustão mental causada pelo excesso de estímulos digitais e pela sobrecarga cognitiva no ambiente de trabalho pode ser vista como um dos riscos modernos que impactam diretamente a saúde mental dos trabalhadores.
Nesse contexto, a NR-1 exige que as empresas não apenas reconheçam esses fatores, mas também implementem estratégias para mitigá-los, como programas de conscientização, pausas planejadas e a promoção de práticas saudáveis no uso da tecnologia. A medida reforça a necessidade de prevenir o esgotamento mental e garantir um ambiente de trabalho mais equilibrado e produtivo.
Como identificar e prevenir o “brain rot”
Os sinais de que o cérebro está sobrecarregado incluem dificuldade de concentração, fadiga mental e alterações de humor, como estresse e irritabilidade. No entanto, existem práticas que podem ajudar a prevenir esses sintomas.
“Estipular tempo de exposição às telas e determinados tipos de conteúdo é essencial”, orienta Karla. Além disso, a psicóloga sugere buscar atividades que estimulem o cérebro de forma saudável, como leitura, jogos de lógica ou aprender algo novo. Exercícios físicos também são essenciais, pois liberam hormônios que promovem bem-estar e melhoram a circulação sanguínea no cérebro.
Outro ponto crucial é regular o sono. “Da mesma forma que você precisa estipular tempo de exposição a telas e conteúdos, também é uma boa orientação estipular horários certos para dormir. Manter o sono regulado vai ajudar na restauração do corpo físico e da mente, preparando-o para um novo dia com novos desafios”, pontua.
Impacto no mercado de trabalho
Do ponto de vista corporativo, o “brain rot” tem consequências diretas. Funcionários sobrecarregados apresentam queda na produtividade, maior propensão a erros e dificuldades em desempenhar tarefas que exigem criatividade ou atenção prolongada. Para as empresas, isso representa perdas significativas, tanto em resultados quanto em retenção de talentos.
Organizações que priorizam a saúde mental de seus colaboradores não apenas cumprem seu papel social, como também colhem benefícios em termos de engajamento, inovação e resultados sustentáveis. No mês do Janeiro Branco, a reflexão sobre esses temas é um convite para repensarmos nossas práticas, promovendo um ambiente de trabalho mais humano e saudável.