O setor Offshore é, por natureza, um ambiente de trabalho que impõe desafios únicos e complexos. A combinação de fatores como o isolamento, a pressão por produtividade e a exposição a perigos constantes cria um cenário onde a saúde mental dos trabalhadores é colocada à prova diariamente. Nesse contexto, a gestão de riscos psicossociais deixa de ser um diferencial para se tornar um pilar fundamental para a sustentabilidade do negócio, a segurança operacional e, acima de tudo, a preservação da vida e do bem-estar dos profissionais.
Este artigo aprofunda a discussão sobre a gestão desses riscos, detalha as novas diretrizes da NR-1 e apresenta um caminho claro para que as empresas do setor possam se adaptar e prosperar nesse novo cenário regulatório e social.
O que é a gestão de riscos psicossociais no setor Offshore?
A gestão de riscos psicossociais pode ser definida como um processo contínuo e sistemático de identificação, avaliação, prevenção e mitigação dos fatores presentes na organização e no ambiente de trabalho que possuem o potencial de causar danos à saúde mental, social e física dos trabalhadores. Diferente de uma abordagem pontual, essa gestão deve estar integrada a todos os processos da empresa, desde o planejamento das escalas de trabalho até a cultura de liderança.
No ambiente Offshore, os riscos psicossociais são intensificados por uma série de fatores específicos, que incluem:
- Confinamento e Isolamento: A longa permanência em plataformas, distante do convívio familiar e social, pode gerar sentimentos de solidão, angústia e desconexão com a vida em terra.
- Carga de Trabalho e Pressão por Desempenho: Jornadas de trabalho extensas, metas de produção agressivas e a necessidade de atenção constante para evitar acidentes criam um ambiente de alta pressão.
- Ambiente Físico Adverso: A exposição a ruído constante, vibrações, temperaturas extremas e condições climáticas severas contribui para o desgaste físico e mental.
- Risco de Acidentes Graves: A consciência permanente do risco de incêndios, explosões e outros acidentes graves gera um estado de alerta constante, que pode levar ao estresse crônico.
- Monotonia e Repetitividade: A execução de tarefas repetitivas por longos períodos pode levar à desmotivação, ao tédio e à diminuição da atenção.
- Dificuldades de Comunicação: A instabilidade ou a falta de acesso a meios de comunicação de qualidade com a família e amigos pode agravar a sensação de isolamento.
Quais os impactos dos riscos psicossociais na saúde dos trabalhadores?
Os impactos da exposição contínua a esses riscos são profundos e se manifestam em diversas esferas da vida do trabalhador, com consequências que se estendem à organização e à sociedade.
Efeitos psicológicos e emocionais
A saúde mental é a primeira a ser afetada. Os trabalhadores podem desenvolver quadros de ansiedade, caracterizados por preocupação excessiva e constante; depressão, que envolve tristeza profunda, perda de interesse e de prazer; e a Síndrome de Burnout, um estado de esgotamento físico e mental relacionado ao trabalho.
Além disso, o estresse pós-traumático (TEPT) pode ocorrer após a vivência ou testemunho de acidentes. O abuso de álcool e outras substâncias também pode surgir como uma tentativa disfuncional de lidar com o sofrimento psíquico.
Repercussões físicas e ocupacionais
O estresse crônico desencadeia uma série de reações fisiológicas que, a longo prazo, resultam em problemas de saúde. O aumento dos níveis de cortisol pode levar a distúrbios do sono, problemas gastrointestinais, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e comprometimento do sistema imunológico.
Cognitivamente, a capacidade de concentração, a memória e a tomada de decisão são prejudicadas, o que aumenta drasticamente a probabilidade de erros humanos e, consequentemente, de acidentes de trabalho.
Custos para empresas e sociedade
O impacto financeiro para as empresas é significativo. Os custos diretos incluem despesas com planos de saúde, pagamento de indenizações e afastamentos pelo INSS. Os custos indiretos, muitas vezes subestimados, são ainda maiores e englobam a perda de produtividade, o aumento da rotatividade de pessoal (turnover), os custos com recrutamento e treinamento de novos funcionários, e os danos à imagem e reputação da empresa. Para a sociedade, o ônus se reflete na sobrecarga do sistema público de saúde e na perda de anos de vida produtiva.
Gestão de riscos psicossociais no setor Offshore
Uma gestão eficaz exige uma abordagem proativa e integrada, que envolva todos os níveis da organização.
Políticas organizacionais de prevenção
É crucial que a alta direção demonstre um compromisso visível com a saúde mental. Isso se traduz na criação de políticas que promovam uma cultura de segurança psicológica, onde os trabalhadores se sintam à vontade para falar sobre seus problemas sem medo de retaliação.
A implementação de canais de denúncia confidenciais para casos de assédio e a promoção de uma cultura de respeito e colaboração são medidas essenciais.
Estratégias de monitoramento e avaliação contínua
A identificação dos riscos deve ser feita de forma sistemática, utilizando ferramentas como pesquisas de clima organizacional, questionários validados (como o Copenhagen Psychosocial Questionnaire – COPSOQ), grupos focais e entrevistas com os trabalhadores.
A análise de indicadores de saúde, como taxas de absenteísmo e dados de exames periódicos, também fornece informações valiosas para o monitoramento contínuo.
Programas de saúde mental e suporte psicossocial
As empresas devem oferecer Programas de Apoio ao Empregado (PAE), que disponibilizem atendimento psicológico, social, jurídico e financeiro de forma confidencial. A criação de programas de suporte entre pares (peer support), onde trabalhadores treinados oferecem apoio aos colegas, também têm se mostrado uma estratégia eficaz.
Boas práticas e ferramentas de gestão
A implementação de boas práticas e o uso de ferramentas adequadas são fundamentais para o sucesso da gestão de riscos psicossociais.
Treinamento de líderes e gestores Offshore
Os líderes são peças-chave na promoção da saúde mental. O treinamento deve capacitá-los a identificar os primeiros sinais de sofrimento psíquico, a praticar a escuta ativa, a dar feedback de forma construtiva, a gerenciar conflitos e a promover um ambiente de trabalho justo e motivador.
Programas de apoio aos trabalhadores e suas famílias
O suporte deve se estender às famílias. A realização de briefings antes do embarque, a criação de grupos de apoio para os familiares e a garantia de meios de comunicação de qualidade e acessíveis são ações que ajudam a reduzir a ansiedade e a fortalecer os laços familiares, contribuindo para o bem-estar do trabalhador.
Uso da tecnologia no monitoramento de saúde mental
A tecnologia oferece novas possibilidades para a promoção da saúde mental. Plataformas de telepsicologia quebram as barreiras geográficas, permitindo o acesso a profissionais de saúde mental a qualquer momento. Aplicativos de meditação, mindfulness e bem-estar podem ser disponibilizados aos trabalhadores, e o uso de wearables para monitorar indicadores de estresse e qualidade do sono pode fornecer dados importantes para intervenções precoces.
Normas e legislações aplicáveis
A preocupação com os riscos psicossociais está refletida em diversas normas nacionais e internacionais.
Diretrizes internacionais (ILO, OMS, OIT)
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) publicaram diretrizes conjuntas que recomendam a implementação de ações para prevenir riscos, proteger e promover a saúde mental no trabalho, e apoiar os trabalhadores com condições de saúde mental.
A norma ISO 45003 é a primeira norma internacional a fornecer um guia prático para a gestão de riscos psicossociais, complementando a ISO 45001 de Saúde e Segurança Ocupacional.
Regulamentações brasileiras para o setor offshore
No Brasil, a NR-37 já estabelece a necessidade de atenção aos riscos psicossociais em plataformas de petróleo. Contudo, a grande mudança vem com a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1). A Portaria MTE nº 1.419/2024 determinou que, a partir de 26 de maio de 2026, a avaliação e o controle dos riscos psicossociais se tornam obrigatórios e devem ser explicitamente incluídos no Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) e, consequentemente, no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) de todas as empresas.
Essa mudança representa uma evolução significativa, exigindo que as organizações tratem a saúde mental com a mesma seriedade e metodologia que os riscos físicos, químicos e biológicos.
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